Processo de educação musical sistemático desde a infância traz benefícios ao adulto. Brincadeiras ajudam no aprendizado
O contato do ser humano com a música desde a infância traz benefícios ao desenvolvimento pessoal da criança, que pode se tornar um adulto inteligente e sociável. O processo de educação musical passou a ser obrigatório no ensino regular das escolas brasileiras em agosto do ano passado, mas especialistas, que defendem a musicalização infantil há mais tempo, sugerem esse tipo de atividade até mesmo antes de a criança entrar em uma escola regular.
Docente do Departamento de Música e Teatro da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e especialista em educação infantil, a professora Helena Loureirodefende um processo de desenvolvimento musical sistemático durante a infância. “A criança terá a oportunidade de ter um ambiente diversificado de sons e música, que será desenvolvido ao longo da vida. Quando mais se escuta, toca, canta e vivencia, mas desenvolve esse aspecto”, afirmou.
A complexidade de ritmos e sons da música faz com que o cérebro seja estimulado a desenvolver elementos como a lógica e inteligência. “Várias pesquisas comprovam que a música trabalha diversas partes do cérebro, entre elas o raciocínio, a lógica. O que ocorre é que o músico precisa fazer associações de ritmos”, explicou a professora de música Tatiane Mota, que atende cerca de 200 crianças de quatro meses a dez anos.
De acordo com ela, além de trabalhar a sensibilidade, o aluno de música pode se destacar em outras disciplinas como a matemática. “O tempo dos ritmos têm a ver com frações, que desenvolvem a matemática”, disse Tatiane. Helena apontou que a inteligência pode vir a partir do ambiente musical com que a criança tem contato ao longo da infância. “Ela cria esquemas musicais porque experimenta e desenvolve uma vivência musical.”
Entretanto, todo esse universo só será possível dependendo do ambiente em que a criança é exposta desde que nasce. “O ambiente que a criança vivencia pode proporcionar experiências diversificadas e novas aprendizagens. Se ela pode escutar uma diversidade de sons e música, isso se tornará a bagagem dela, que interferirá nas relações sensoriais dela”, apontou Helena.
Brincadeiras com música e ritmos e que interagem com outras pessoas são extremamente saudáveis durante a infância. “Aquelas brincadeiras de roda, em que as crianças cantam, contribui com a sociabilização e interação com outras pessoas, melhorando o respeito ao outro”, observou.
Tatiane ressaltou ainda que a prática da música ajuda a controlar a ansiedade e melhora a concentração. “As crianças são bombardeadas pela mídia e passam horas na frente do computador. Quando fazem aula de música, elas param para prestar atenção ao som”, avaliou. A constância em trabalhar com instrumentos e microfone diminui a timidez. “Desenvolve-se na criança a auto-estima.”
Segundo Tatiane, as aulas ensinam o aluno a ter disciplina. “Eu tinha um aluno de oito anos que sempre respondia com mal criações. Com o passar do tempo ele foi melhorando e deixou de responder. A música ajuda e faz a diferença na formação da criança.” Crianças estressadas e nervosas passam a ficar mais calmas, assim como a imposição de limites aos pequenos. “A criança precisa de limites e, através da música, isso acaba ocorrendo de forma descontraída e prazerosa.”
Educação musical
Helena apontou que a musicalização pode ser desenvolvida em três aspectos. A produção, a apreciação e a reflexão musical. Ela dividiu a infância em três fases: de zero a 2 anos, de 2 a 7 e a partir de 7. Nos dois primeiros anos da infância, em relação à produção musical, a criança tem a oportunidade de brincar com sons e com os timbres. “Do ponto de vista do adulto, o que ela faz não é música, mas para ela é. A criança explora o material sonoro, ela curte o som. Qualquer objeto que produza som é um instrumento na mão da criança, como talheres que batem no prato”, disse.
A partir de então e até os 7 anos, conforme disse Helena, o que a criança mais explora é o canto. “O adulto deve cantar bem para ser modelo, mas não esperar que a criança seja afinada. Isso vem com o tempo e a prática.” Ela recomendou brincadeiras, como contar histórias, cirandas e possibilidades em que a criança pode inventar personagens e trabalhar com efeitos sonoros.
Após essa idade, as crianças já estão aptas a desenvolverem o que Helena chamou de alfabetização musical. “São aulas de instrumentos, com notas musicais, grafias rítmicas. Muitas crianças que trabalham com música desde a infância, chegam nessa idade com vontade de partir para o aprendizado de um instrumento”, disse.
O segundo aspecto, relacionado à apreciação musical, está ligado à capacidade que a música tem de prender a atenção das crianças. “É a oportunidade de se escutar um repertório diferenciado. O que se coloca para ouvir, a criança escuta. Mais tarde ela manifestará interesse por uma ou outra forma.” De acordo com ela, os pais ou responsáveis podem utilizar algumas estratégias. “Colocar um CD de música clássica ou até um rock enquanto embala a criança para dormir, ou enquanto ela está no carrinho”, apontou.
Helena afirmou ainda que o trabalho com movimento é importante para fixar na criança o gosto pela música. “A criança interage com os sons, muitas vezes, através de gestos e movimentos, como a dança. É como se ela escutasse e apreciasse a música através do corpo.” Segundo ela, as brincadeiras devem vir acompanhadas de muito movimento.
Por último, o terceiro aspecto apontado por Helena não se aplica a crianças pequenas, sendo possível a partir dos dez anos de idade. “Este é um processo mais reflexivo, de provocar a criança a fazer relações com as coisas que ela vive no mundo”, explicou. Este é o chamado momento reflexivo, quando a pessoa começa a fazer reflexões sobre o papel da música na sociedade, em relação à função social dela, além de buscar na sociedade as formas e origens da música.
A professora de música Tatiane Mota sugeriu que é preciso fazer com que a criança crie vínculo com a música. “Podemos trabalhar com sons de instrumentos diferentes utilizando objetos do cotidiano, como a colher, a sacolinha, entre outros, a fim de apresentar o universo musical fazer o mundo sonoro ficar atrativo para a criança.” Além disso, ela utiliza chocalhos, pandeiros, tambores, violão, teclado e bateria infantil.
Laura iniciou as aulas com apenas um ano
Por volta do primeiro aniversário, Laura Dias Kamisima, de um ano e meio, foi matriculada pela mãe, Cíntia Dias Kamisima, na aula de musicalização infantil, com a professora Tatiane Mota. “Eu queria que ela tivesse alguma atividade fora de casa, além de desenvolver o gosto pela música”, contou a mãe. Há seis meses, Laura frequenta as aulas, realizadas durante 30 minutos por semana.
Apesar da pouca idade, Laura já demonstrou resultados positivos a partir das aulas. “A professora ensina palavras novas e noções de lateralidade. Ela começou a falar mais e ter mais expressão facial. Além disso, a Laura presta bastante atenção nos nossos lábios quando estamos falando”, observou Cíntia. A mãe contou ainda que as noções de esquerda e direita, cima e baixo, pesado e leve, estão sendo desenvolvidos mais rápidos do que se ela não estivesse na aula.
“É uma forma de educar”, avaliou Cíntia. Laura é a aluna mais nova de Tatiane neste ano. A professora já trabalha com crianças há dez anos e já deu aulas para bebês a partir de quatro meses. Ela explicou que na idade da Laura, é necessária a presença de uma outra pessoa. Neste caso, por conta do trabalho da mãe, quem acompanha a menina durante as aulas é a babá, Meire.
“Ainda é preciso a presença de uma pessoa que repita as atividades da aula com a criança em casa. O estímulo dos exercícios faz toda a diferença”, explicou Tatiane. As aulas, ainda são individuais e com pouco tempo de duração. “Não adianta fazer muito tempo, porque a criança fica inquieta.”, disse Tatiane.
Em casa, Cíntia observou uma concentração maior da filha. “Ela passou a ter um gosto pela música. Quando a gente coloca o DVD de um desenho infantil ela para e começa a escutar. Ás vezes ela mesma pede para ligarmos o aparelho.” Laura melhorou também a coordenação motora. “Isso é reflexo de manusear os objetos junto com os instrumentos nas aulas”, afirmou.
A especialista em educação musical infantil, Helena Loureiro, ressaltou que não há problema algum no fato de Laura participar das aulas de música. “Não há idade para começar a aprender. Nem para cima, nem para baixo, porque a educação musical pressupõe um trabalho sistemático e intencional.”
fonte: http://www.jornaldelondrina.com.br/online/conteudo.phtml?tl=1&id=899250&tit=Educacao-musical-desenvolve-inteligencia-e-sociabilidade-em-criancas
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