Pesquisa mostra que o desenvolvimento da percepção auditiva está relacionado ao aumento da concentração e da memória, ajudando a ler e a escrever
O estudo da música é capaz de otimizar o processo de aprendizado da leitura e da escrita
Aprender a tocar um instrumento ou a cantar pode ajudar crianças comdificuldades de leitura e da linguagem, aponta uma pesquisa da Associação Americana de Psicologia lançada em agosto deste ano. O estudo foi realizado com escolas públicas de Chicago e Los Angeles, nas quais os alunos foram divididos em um grupo que teria aulas de instrumento ou coral, e um grupo que não teria aulas. O monitoramento das atividades cerebrais dos participantes após dois anos mostrou que o primeiro grupo teve um desenvolvimento na maneira com que o sistema nervoso processa o som em um ambiente agitado, como a sala de aula ou o parquinho, o que leva à melhoria da memória, concentração e habilidades de comunicação.
Pela primeira vez, um estudo sobre os efeitos da educação musical na escola foi realizado em áreas de baixa renda, explica a líder da pesquisa Nina Kraus, neurobiologista da Universidade de Northwestern. As dificuldades de aprendizado das crianças dessas áreas, em comparação com a escolas de classe média e alta, podem ser contornadas por meio do estudo da música, capaz de otimizar o processo de aprendizado da leitura e da escrita, acredita a pesquisadora.
"Estamos gastando milhões em remédios para ajudar as crianças a se concentrarem, e aqui temos uma intervenção não-farmacológica que muitos com dificuldades de aprendizado se dedicam fora da escola, que funciona", comenta no estudo Margaret Martin, que também participou da pesquisa. "Aprender música aparentemente remodela o cérebro das crianças de modo a facilitar e melhorar a habilidade de aprender a escrever", conclui.
Como nosso cérebro aprende a ler e a escrever?
Pela primeira vez, um estudo sobre os efeitos da educação musical na escola foi realizado em áreas de baixa renda, explica a líder da pesquisa Nina Kraus, neurobiologista da Universidade de Northwestern. As dificuldades de aprendizado das crianças dessas áreas, em comparação com a escolas de classe média e alta, podem ser contornadas por meio do estudo da música, capaz de otimizar o processo de aprendizado da leitura e da escrita, acredita a pesquisadora.
"Estamos gastando milhões em remédios para ajudar as crianças a se concentrarem, e aqui temos uma intervenção não-farmacológica que muitos com dificuldades de aprendizado se dedicam fora da escola, que funciona", comenta no estudo Margaret Martin, que também participou da pesquisa. "Aprender música aparentemente remodela o cérebro das crianças de modo a facilitar e melhorar a habilidade de aprender a escrever", conclui.
Como nosso cérebro aprende a ler e a escrever?
"A linguagem é uma habilidade muito antiga em nossa filogênese, enquanto a escrita é uma forma muito nova de conhecimento" explica a professora Fraulein de Paula, do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade, da Universidade de São Paulo. "Por isso, áreas que desenvolvem diferentes funções no cérebro são responsáveis por esse aprendizado", diz.
Segundo o professor e neuropsicólogo Fernando Capovilla, o processo de aprendizado da escrita pode ser dividido em três fases:
1. Logográfica ou ideográfica: o lado direito de nosso cérebro vê a palavra escrita e a reconhece como uma representação gráfica. "Nessa fase, as palavras ainda são como um desenho para a mente", explica Capovilla.
2. Alfabética: a partir de certo momento, o cérebro passa a identificar cada representação gráfica com seu som correspondente, permitindo a decodificação da palavra em seus fonemas. "O cérebro passa a utilizar o lado esquerdo do cérebro, mais especificamente a região temporo parietal esquerda", diz o professor. Nessa fase, ainda comete-se erros de leitura com as exceções da língua, como por exemplo ler a palavra "exército" como "echército" ou "eczército".
3. Lexical ou Ortográfica: nessa fase, a leitura é feita por meio do reconhecimento visual direto das palavras, sem passar por um processo de decodificação. As irregularidades da língua já foram decoradas, e o cérebro passa a usar a área temporo occipital esquerda, também responsável pela visão. "Quando estamos diante de uma palavra que não conhecemos mas sabemos ler, o cérebro volta a utilizar a região temporo parietal esquerda (segunda fase)", ressalta Capovilla.
O que isso tem a ver com a música?
O aprendizado da música relaciona-se com o da escrita em diversos aspectos. "A leitura de uma partitura, por exemplo, utiliza os mesmos processo cerebrais do lado esquerdo do cérebro que o da leitura de um texto", diz o professor Fernando Capovilla. "Além disso, ativa-se a região pré-frontal, responsável pelo monitoramento do comportamento cerebral, e a cerebelar, relacionada a noções de tempo e motricidade, região essa com maior número de neurônios do cérebro", explica.
No estudo realizado pela Associação Americana de Psicologia, os alunos que tiveram aulas de instrumento ou coral desenvolveram, ao final de dois anos, respostas neurais mais rápidas e precisas ao som, em comparação àqueles que não tiveram aulas de música. O teste também foi realizado após um ano de pesquisa, porém os resultados não mostraram diferença, o que indica que o aprendizado musical não deve ser feito apenas a curto prazo. "O desenvolvimento da percepção auditiva, principalmente se estimulado desde a educação infantil, é essencial para o aprendizado da escrita", diz a professora Fraulein de Paula. "A consciência da linguagem oral é um preditor para depois reconhecer a escrita das palavras, pois se já se tem desenvoltura com o som, a leitura passa a ser mais um processo cognitivo de lidar com ele", explica.
"A música, além de contribuir para o apuramento estético e ser um regulador emocional, tem grandes efeitos no desenvolvimento de certos mecanismos de pensamento", comenta Fraulein. Esses mecanismos podem ser definidos como metacognições, ou o reconhecimento do pensamento como objeto de estudo. Uma pesquisa de Iniciação Científica no Instituto de Psicologia da USP realizada com músicos profissionais indicou que, dentre as metacognições desenvolvidas, estão a melhoria de concentração e disciplina. "Os músicos mostraram maior desenvoltura para otimizar o processo de estudo, tendo mais autocontrole do aprendizado individual", aponta a professora.
A partitura como linguagem
Segundo o professor e neuropsicólogo Fernando Capovilla, o processo de aprendizado da escrita pode ser dividido em três fases:
1. Logográfica ou ideográfica: o lado direito de nosso cérebro vê a palavra escrita e a reconhece como uma representação gráfica. "Nessa fase, as palavras ainda são como um desenho para a mente", explica Capovilla.
2. Alfabética: a partir de certo momento, o cérebro passa a identificar cada representação gráfica com seu som correspondente, permitindo a decodificação da palavra em seus fonemas. "O cérebro passa a utilizar o lado esquerdo do cérebro, mais especificamente a região temporo parietal esquerda", diz o professor. Nessa fase, ainda comete-se erros de leitura com as exceções da língua, como por exemplo ler a palavra "exército" como "echército" ou "eczército".
3. Lexical ou Ortográfica: nessa fase, a leitura é feita por meio do reconhecimento visual direto das palavras, sem passar por um processo de decodificação. As irregularidades da língua já foram decoradas, e o cérebro passa a usar a área temporo occipital esquerda, também responsável pela visão. "Quando estamos diante de uma palavra que não conhecemos mas sabemos ler, o cérebro volta a utilizar a região temporo parietal esquerda (segunda fase)", ressalta Capovilla.
O que isso tem a ver com a música?
O aprendizado da música relaciona-se com o da escrita em diversos aspectos. "A leitura de uma partitura, por exemplo, utiliza os mesmos processo cerebrais do lado esquerdo do cérebro que o da leitura de um texto", diz o professor Fernando Capovilla. "Além disso, ativa-se a região pré-frontal, responsável pelo monitoramento do comportamento cerebral, e a cerebelar, relacionada a noções de tempo e motricidade, região essa com maior número de neurônios do cérebro", explica.
No estudo realizado pela Associação Americana de Psicologia, os alunos que tiveram aulas de instrumento ou coral desenvolveram, ao final de dois anos, respostas neurais mais rápidas e precisas ao som, em comparação àqueles que não tiveram aulas de música. O teste também foi realizado após um ano de pesquisa, porém os resultados não mostraram diferença, o que indica que o aprendizado musical não deve ser feito apenas a curto prazo. "O desenvolvimento da percepção auditiva, principalmente se estimulado desde a educação infantil, é essencial para o aprendizado da escrita", diz a professora Fraulein de Paula. "A consciência da linguagem oral é um preditor para depois reconhecer a escrita das palavras, pois se já se tem desenvoltura com o som, a leitura passa a ser mais um processo cognitivo de lidar com ele", explica.
"A música, além de contribuir para o apuramento estético e ser um regulador emocional, tem grandes efeitos no desenvolvimento de certos mecanismos de pensamento", comenta Fraulein. Esses mecanismos podem ser definidos como metacognições, ou o reconhecimento do pensamento como objeto de estudo. Uma pesquisa de Iniciação Científica no Instituto de Psicologia da USP realizada com músicos profissionais indicou que, dentre as metacognições desenvolvidas, estão a melhoria de concentração e disciplina. "Os músicos mostraram maior desenvoltura para otimizar o processo de estudo, tendo mais autocontrole do aprendizado individual", aponta a professora.
A partitura como linguagem
"Como o texto, a partitura também é um suporte do pensamento, um modo de representá-lo", explica Fraulein de Paula. Nesse sentido, aprender a ler uma partitura é entrar em contato com um sistema de representação de ideias, no qual cada símbolo corresponde a um som, assim como o alfabeto. "No caso da partitura, ainda, o aprendizado envolve uma série de representações gráficas que indicam comandos diversos, compondo uma linguagem própria, um vocabulário", diz. Para ler esse "texto", é necessário saber o contexto histórico em que foi produzido, "pois assim como a palavra, o som tem seu significado alterado pelo contexto inserido", compara Fraulein.
Ao entrar em contato com um texto, o leitor pode absorvê-lo no nível léxico, ou seja, entender o significado daquelas palavras, mas é necessário ir além. "O que vale de uma leitura é o conhecimento novo produzido a partir do encontro daquelas ideias com as experiências pessoais do leitor", diz a professora. "O mesmo acontece com a partitura: o músico que se configura um mero reprodutor de notas, ou seja, daquilo que está lendo, permanece no nível léxico do texto, enquanto aquele que imbui de compreensão pessoal a sua interpretação, produz um conhecimento novo a partir da leitura", conclui.
Ao entrar em contato com um texto, o leitor pode absorvê-lo no nível léxico, ou seja, entender o significado daquelas palavras, mas é necessário ir além. "O que vale de uma leitura é o conhecimento novo produzido a partir do encontro daquelas ideias com as experiências pessoais do leitor", diz a professora. "O mesmo acontece com a partitura: o músico que se configura um mero reprodutor de notas, ou seja, daquilo que está lendo, permanece no nível léxico do texto, enquanto aquele que imbui de compreensão pessoal a sua interpretação, produz um conhecimento novo a partir da leitura", conclui.
fonte:http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/como-educacao-musical-ajuda-aprendizado-leitura-escrita-803200.shtml
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